sábado, 26 de abril de 2025

Ancestralidade


Nossa alma chora, nosso coração bate descompassado em meio ao luto que só começa, mas não termina. Começamos a ver o mundo diferente, com cores, mas esmaecidas, como uma rosa que sofre desidratação.

              Buscamos manter vivas na memória as lembranças de quem se foi, as boas e as não tão boas, lutamos ferozmente com a nova geração para que não esqueçam de onde vieram, mas a vida deles segue, eles têm sede do novo, de construção, enquanto nós buscamos apenas a (re) construção, porque nossa vida já não é mais a mesma, ela segue, mas em partes, em ondas, em brisas quentes como o verão, saborosas como o outono, perfumadas como a primavera e frias como o inverno.

              Nessa nova vida, a brisa não espera a estações, ela se mistura, se atropela e nos atinge com a força da saudade.

              Um dia também seremos lembranças, imagens na memória, nas fotos em vídeos que provavelmente ninguém mais verá. É então que sofremos ainda mais, pela dor da nossa perda e pela dor futura de nos perderem.

              Ensinamos eles a nos amar porque os amamos, ensinamos a respeitar porque queremos protegê-los, ensinamos a pensar em nós porque queremos ser vivos em algum lugar daquele futuro que não estaremos.

              Logo já não sabemos se estamos pensando em quem se foi ou se estamos pensando em nós, se a dor do luto é pelo passado ou pelo futuro...

              Queria, de verdade, que a partida, deles ou a nossa, fosse silenciosa, sem essa dor barulhenta e complexa, que nos mastiga, pisa, acaricia e começa tudo de novo, mas isso não é e nem nunca será possível para os amantes, os que amam nunca esquecem.

              Jamais esquecerei quem se faz tão presente!

 

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