Não tem nada para contar,
porque não houve nada. __ O pensamento era quase um mantra.
Perambulou um pouco pelas ruas sem se dar conta de
sua aparência: os cabelos crespos e encaracolados estavam desarrumados, o batom
já havia sumido e na blusa faltava um botão.
Ainda meio
vacilante, parou em um bar e pediu um café, sabia que era requentado, mas não
se importava, queria apenas concentrar-se em algo diferente do que acabara de
acontecer.
Não queria
voltar para casa, sentia que de alguma maneira, o que era naquele momento, não
poderia entrar naquele lugar.
___ Moça. __ chamou o garçom.
Ela não respondeu, na verdade sequer havia escutado.
___ Moça. __ repetiu o homem, mais alto dessa vez.
Ela o olhou fundo nos olhos, sua boca não se mexeu,
seus olhos pareciam duas turmalinas negras, vazias.
___ A senhora está bem? Nem encostou no café. __
observou.
Era um rapaz jovem, jovem demais para saber que não
se aborda um cliente daquela maneira.
Aparentemente sem voz ainda, conseguiu movimentar a
cabeça de forma a indicar que estava bem.
As pernas pareciam vacilantes, o corpo estava
dolorido, toda ela parecia estranha.
Nada mais voltaria ao lugar, sabia bem no fundo de
si, mas era preciso seguir em frente.
Perguntou onde era o banheiro e, com mãos trêmulas,
passou o batom e delineou os olhos, arrumou o cabelo, o melhor que pôde, e saiu
em direção à sua vida. Mas que vida seria aquela? De que maneira seguiria?
Esperava, como todos os dias, a hora das risadas e
abraços.
___ Oi, mamãe, estou morrendo de fome!__ Tiago foi
logo dando a mochila e a pasta para que ela as levasse.
Com apenas seis anos, já parecia um menino crescido,
era o mais alto da turma.
___ Primeiro você vai ter que me contar como foi o
seu dia e o que fez na aula, depois pensaremos em algo para comer.__ falou a
mãe.
___ Eu estudei. __ respondeu lacônico.
A resposta curta a fez sorrir, crianças eram sempre
tão objetivas...
O retorno ao lar pareceu mais suave, com aquela
mãozinha pequena segurando-a. O calor que emanava daquele pequeno ser a enchia
de esperança.
Em pouco tempo, Heitor chegaria. Queria deixar o
jantar adiantado, e se arrumar um pouco.
Preparou tudo, estava ansiosa. Ele parecia estar
atrasado, mas isso era comum, às vezes demorava mais na rua, ou ia ver um
cliente em potencial. O marido era corretor de investimentos e ela trabalhava
como advogada em seu próprio escritório. A casa era bonita, arejada, tinha um
estilo singular, estava repleta de fotos do menino e das viagens que fizeram.
Olhando em volta, dava para perceber que haviam
superado a infância pobre em uma favela com alta criminalidade no Rio,
conseguiram focar em seus estudos e mirar um futuro onde não houvesse projéteis
incandescentes rasgando o escuro da noite.
Quando se mudaram para aquele condomínio de classe
média, perceberam os olhares atravessados dos vizinhos; para muitos, o lugar
daqueles pretos não era ali, mas com serenidade, souberam driblar o
preconceito, só queriam dar um lar melhor para o filho.
Tiago começou a gritar da sala avisando que o pai
estava chegando.
Alegre, Heitor abraçou o filho e o trouxe nos ombros,
pareciam cópias fiéis um do outro, mas não se podia dizer que Tiago não possuía
nenhum traço da mãe, o sorriso era muito parecido com o dela.
___ Hoje você demorou muito!__ a voz saiu mais áspera
do que ela gostaria.
___ Tive que fazer uma visita quando já estava a
caminho de casa. __ ele pareceu não se importar com a expressão carregada no
rosto da esposa, ela andava nervosa nos últimos dias, o que era compreensível,
trabalhava duro.
___ Pode dar banho no Tiago?__ perguntou ela__ Já fiz
os deveres de casa com ele.
___ Posso tomar banho sozinho! __disse o menino com
olhos marotos de quem nem abriria o chuveiro.
___ Tudo
bem. __ respondeu, Heitor __ Mas eu vou entrar só um pouquinho, para ver se
você não vai molhar tudo.
Os dois
saíram rindo da sala.
Os barulhos vindos do interior da casa demonstravam
que o banho já havia terminado, se
apressou em colocar a mesa.
___ Venham! __ chamou.
Heitor parecia especialmente cansado naquele dia,
respirava fundo, ombros caídos, estava distraído. Tiago preencheu o tempo
falando de uma série de coisas, seus pensamentos eram rápidos como a luz,
falava sem parar, o pai costumava dizer que ele seria comentarista de jogos de
futebol.
Os olhos da esposa não saíam de cima do marido,
embora quisesse saber o que estava acontecendo, não queria perguntar, até
porque não estava muito disposta para conversar sobre o que quer que fosse. Mas
seu cérebro estava treinado para perceber quando algo estava errado.
Já deitados, ouviu Heitor soltar um longo suspiro.
Aquela era a sua deixa.
___ O que aconteceu hoje? __ questionou.
___ Estou decepcionado. __ suspirou novamente.
“Um coração culpado é um coração atormentado, como o
mar em dia de tormenta.”, pensou ela.
___ Isso me lembra a minha infância, quando chegava o
Natal e eu ganhava um brinquedo, mas não o que eu realmente queria. __ela
tentou brincar.
___ A história é mais ou menos essa. Estava certo de
que fecharia um grande negócio, um cliente rico, dono de uma empresa de
construção... Hoje ele pediu que eu fosse até a casa dele. Bom, quando cheguei
lá, ele disse que estava com dúvidas, achava que esse não era o momento certo
para investir... Resumindo, ele não quer continuar com os planos.
Heitor havia se dedicado por bastante tempo na
pesquisa do perfil do cliente, fez um levantamento dos seus investimentos, dos
ganhos e das perdas que poderia ter, caso mudasse o rumo de suas transações.
Aparentemente tudo isso não surtiu efeito, o homem não era tão arrojado quanto
deveria ser.
Ágatha disse as palavras que achou coerentes naquele
momento, não conseguiria, ou melhor, não podia, minimizar os sentimentos do
esposo, ela própria estava perdida em si mesma.
O sol ainda nem nascera direito e o casal já estava
de pé, havia uma série de coisas a serem feitas, a começar por preparar o café
da manhã e aprontar Tiago para ir à escola.
A criança acordava sonolenta e ligeiramente mal humorada, as idas e
vindas pelo corredor indicavam que estavam com pressa, algo rotineiro nos dias
de semana. Heitor o deixaria na escola para que a mãe o pegasse no final da
tarde. Esse foi o arranjo possível, não tinham quem fizesse isso por eles.
O escritório estava às escuras, algo incomum, fazendo
com que a advogada soltasse um sonoro palavrão. Júlia, a recepcionista já
deveria ter chegado uma hora antes dela. Acendeu as luzes e foi para sua sala.
Mal havia se sentado e o telefone tocou.
___ Doutora Ágatha, em que posso ajudar? __ atendeu.
___ Preciso falar com você. __ disse a voz do outro
lado da linha.
Sempre direto. Essa era uma característica marcante
demais para que ela tivesse esquecido.
___ Senhor Monteiro, __ jamais o chamara assim __
sinto muito, mas hoje não poderei atendê-lo, tenho uma audiência agora pela
manhã. Mas... ligue mais tarde... tente agendar um horário com a Júlia.
Não ouviu nenhum ruído do outro lado da linha
enquanto apertava com mais força o aparelho.
___ Eu entendo. __ respondeu calmo __ Farei o que
pediu.
Monteiro não se despediu, apenas encerrou a ligação.
Ela se viu surpresa com isso, mas respirou aliviada,
não havia mais nada o que pudesse fazer, e deu o assunto por encerrado.
Começou a organizar sua mesa e quando o fez não ficou
tão aborrecida com o atraso da recepcionista: alguns papéis estavam no chão,
assim como o retrato e outros objetos. A impressão que dava era a de que uma
janela havia ficado aberta durante a noite, deixando entrar o vento forte do
inverno, quando na verdade ainda estava no outono.
Anotou mentalmente que deveria comprar outro
porta-retrato, o vidro estava quebrado bem no meio. Aquela era uma das muitas
fotos que tinha no escritório, era o registro de seu casamento, sete anos
antes: ela e Heitor estavam nos braços um do outro e sorriam para o futuro.
Quando levantou os olhos percebeu horrorizada que o
tempo havia passado mais rápido do que se dera conta, e estava em cima da hora
para comparecer ao Fórum. Jamais se atrasara antes para um compromisso.
O salto batia forte no chão, os passos eram decididos
e apressados. Mal cumprimentara o cliente, Samuel, e já estavam sendo chamados
para a audiência. Estava transpirando e respirando forte, exatamente como no
dia anterior.
Aquela
era uma causa importante, ela estava lutando contra um grande banco. Samuel
percebera que havia sumido uma grande quantia em dinheiro de sua conta,
indignado, procurou o gerente e, para sua surpresa, recebeu apenas respostas
vagas. O homem não conseguira explicar como aquilo havia acontecido e pior, não
lhe dera uma solução. Diante de tais evasivas, procurou o escritório dela, que
entrou com uma ação contra o banco.
Ágatha recusara a proposta feita pelos advogados da
outra parte: restituírem o valor retirado da conta, corrigido com os juros da
poupança. Achara um verdadeiro insulto à sua inteligência, aqueles engravatados
a estavam subestimando. Teriam o que mereciam!
Argumentou
que caso a situação fosse contrária, se Samuel estivesse devendo ao banco,
teria de pagar o dinheiro corrigido pelos juros do cheque especial, portanto,
como fora o banco que o lesara, as regras deveriam ser as mesmas para o
ressarcimento. Ela sabia que eles não tinham saída, seu argumento era bastante
razoável, apresentariam uma contraproposta.
Uma nova audiência seria marcada. Explicou tudo ao
idoso e disse que entraria em contato assim que tivesse alguma novidade.
Decidiu que não voltaria imediatamente ao escritório, almoçaria pelo centro da
cidade mesmo e depois partiria em busca de uma nova moldura para a foto de seu
casamento.
A procura não foi em vão, encontrou uma dourada,
bastante chamativa e muito bonita. Sorriu para si mesma pensando em como ficaria
linda em sua mesa de trabalho.
Ao voltar para o escritório encontrou a funcionária
sentada a mesa com ar triste.
___ Doutora, __ disse a jovem __ a senhora me
desculpe pelo atraso. A condução demorou muito hoje. Fui para o ponto no
horário de sempre, mas passaram dois ônibus lotados, era impossível entrar,
tive que esperar outro, aí acabei me atrasando.
A busca por moradias mais baratas e regiões menos
violentas fez com que as pessoas buscassem fixar residência em lugares
distantes do centro da cidade, como a Baixada Fluminense e a Zona Oeste. Mas as
autoridades responsáveis não deram o devido suporte a essas pessoas. Grande
parte da população sofria com a falta de infraestrutura, com a falha no sistema
de transporte, saúde e educação. A jovem morava muito distante do escritório e
Ágatha sabia disso.
___ Tudo bem, Júlia. __ respondeu sensibilizada com a
situação.
___ Alguns clientes entraram em contato. Pediram que
a senhora retornasse as ligações.
A maioria queria saber sobre o andamento de seus processos,
mas ela não tinha nada a lhes dizer ainda, a justiça era morosa, em alguns
casos, uma causa poderia se arrastar por anos a fio.
Ela sabia que ficaria retida por um longo tempo
nisso, mas era algo que precisava ser feito. Os clientes se sentiam mais
seguros com o retorno dela, esse era um diferencial importante da advogada.
Eram tratados com proximidade por ela, buscava humanizar mais a relação
advogada/cliente.
Nos dias que passaram, algumas causas foram
finalmente encerradas e outras surgiram. Tanto Ágatha, quanto Heitor, tiveram uma semana agitada, chegavam ao final
do dia exaustos, sentiam que estavam distantes um do outro há tempos, mas a
luta diária pelo sustento não permitia que parassem para analisar a fundo o que
estava acontecendo.
O marido lhe comunicara que passaria o final de
semana trabalhando em uma pesquisa para um cliente, como não queria incomodar,
ela buscou atividades que pudesse fazer fora de casa com o pequeno Tiago.
___ Sabe o que vamos fazer hoje? __ perguntou ao
filho.
___ Não, mas eu pensei em jogar futebol com o papai.
__ disse o menino.
___ Não, filho, hoje não vai dar, o papai vai ter que
trabalhar e nós, __ fez uma pausa para deixá-lo curioso __ nós vamos ao
zoológico!
___ Oba! __ vibrou __ Vou ver o leão!
O passeio foi maravilhoso. Tiago ficava encantado com
todos os animais que via, a felicidade estava estampada em seu rosto, mas os
pensamentos da mãe estavam muito distantes dali. Pensava em como um casamento
era algo complicado: duas pessoas com criações diferentes, com inúmeras
questões internas vivendo juntas. Por um lado pensava que isso não era algo
necessariamente ruim, pelo contrário, era algo positivo, não estariam vendo uma
cópia de si mesmos, mas por outro, pensava no quão custoso emocionalmente era
manter uma união. A paixão passara logo nos primeiros anos, o que ficou era
algo maior, que dependia exclusivamente de cada um: a vontade de ficar juntos.
Essa vontade fora reforçada com o nascimento do filho.
Quando voltaram para casa, Heitor estava falando no
telefone com alguém.
___ Filho, __ disse a mãe __ por que você não toma um
super banho e depois desce para mostrar ao papai as fotos que tiramos no
passeio?
“Não existem soluções fáceis para nenhum tipo de
problema.”, pensou triste. O menino já deveria estar cansado de ver o pai
sempre muito ocupado, mas Ágatha fazia o melhor que podia para contornar a
situação.
O dia seguinte foi ainda mais animado para Tiago, a
mãe o levara a um parque de diversões, se divertiram nos brinquedos e almoçaram
por ali mesmo. Quando voltaram Heitor não estava. Nem sempre o marido lhe dava
satisfação do que fazia, mas poderia ao menos ter deixado um bilhete.
Voltou para casa no início da noite, estava muito
feliz, fechara um negócio com o cliente do telefone. Ela o ouvia em silêncio.
Eufórico, disse que fora convidado para tomar umas bebidas e aceitara, afinal,
um momento como aquele deveria ser comemorado.
“Então quer dizer que todo o negócio que ele fechar,
vai sair com o cliente para comemorar?” __ pensou irônica.
Estava animadíssimo, falava alto e gesticulava
bastante.
Sem mover um músculo da face, lentamente ela foi
pegando as coisas que ele foi deixando pelo caminho: paletó, sapatos e meias.
Estava irritada! Aquele tempo a mais que ele ficou na rua, poderia ser usado
para ficar um pouco com ela e o filho.
“Fiz a minha parte.” __ pensou desanimada.
Dessa vez, quando chegou pela manhã, Júlia já estava.
De acordo com o seu planejamento, passaria aquele dia no escritório, atendendo
a algum eventual cliente e relendo os processos.
“Um dia
tranqüilo.” __ pensou.
O breve mal
estar que sentiu, indicava que já estava na hora de almoçar.
Enquanto caminhava em direção ao restaurante de
sempre, um carro parou no acostamento, ouviu uma porta bater quase ao mesmo
tempo em que uma mão tocava o seu ombro. Virou-se e deu de cara com Monteiro.
___ Oi. __ disse ele.
___ Oi. __ ela queria falar mais alguma coisa, mas
não sabia o que dizer.
___ Não vou mentir para você e dizer que estava
passando por aqui e a vi. Não, nada disso.__ inspirou profundamente__ Eu estava
esperando você.
Dessa vez não havia a barreira da distância, estavam
ali, frente a frente.
___ Estou indo almoçar. __ disse ela.
___ Eu sei, por isso fiz reserva em um restaurante
especial. __ foi logo abrindo a porta do carro para que ela entrasse.
Como cliente antigo, já haviam almoçado diversas
vezes juntos. As conversas eram sempre agradáveis... Mas não sabia se dessa vez
seria o mesmo. Estava hesitante, mas o olhar dele a convenceu, fez com que se
sentisse segura.
Quando viu que estavam se encaminhando para a ponte
Rio – Niterói, perguntou aonde estavam indo. Misterioso, apenas a olhou e não
disse nada. A viagem foi feita em silêncio, no rádio uma música suave...
A advogada gostava de passear por Niterói, embora já
tivesse passado muito tempo desde a última vez que estivera ali.
O restaurante era de tirar o fôlego, as paredes
envidraçadas permitiam ao visitante se deleitar com a vista da praia e do Rio
de Janeiro, do outro lado da baía. Ele estava tentando impressioná-la, e ela
sabia disso.
___ Aqui é lindo! Obrigada pela gentileza. __ disse,
educada.
___ Não precisa agradecer... Não nos despedimos
direito da última vez que nos vimos, não tivemos oportunidade para conversar
sobre o que aconteceu. __ falou.
___ Senhor Monteiro... __ começou ela.
___ Achei que não tínhamos mais esse tipo de
formalidade há anos, três anos, para ser preciso. Chame-me apenas de Gustavo,
como sempre. __ interrompeu ele.
___ Gustavo, __ ela ficou indecisa sobre como
introduzir o assunto __ não aconteceu nada, quer ... quer dizer, não há nada
para conversar.
O garçom se aproximou a fim de anotar os pedidos.
Ficaram momentaneamente em silêncio.
___ Você acha mesmo que pode dizer isso, que não
aconteceu nada. Ágatha, aposto que as suas lembranças daquele dia são
completamente diferentes. __ alfinetou.
Os olhos escuros, quase negros a esquadrinhavam,
imperiosos, pediam uma resposta, quase a hipnotizaram, levaram-na de volta à
semana anterior.
Júlia deveria ir a alguns bancos, depois estava
dispensada. Ágatha ficaria por mais um tempo.
Gustavo apareceu sem avisar, levara consigo uma
minuta de contrato. Estava negociando com um proprietário a compra de duas
salas comerciais em um prédio, pretendia fazer uma grande reforma para depois
alugar. Essa era sua estratégia, acumulara uma grande quantia em dinheiro com
isso. Ela deveria analisar o contrato, ver se havia algo a ser alterado. Leu
com calma e aparentemente estava tudo em ordem. Devolveu a pasta dando o seu
aval.
Antes de ir, ele puxou assunto, perguntou por Tiago.
Ela pareceu se iluminar só em falar no menino. Contou suas proezas na escola e
sobre como estava esperto, mas quando o assunto foi sobre Heitor, os olhos pareceram
ficar tristes, como se alguma nuvem tivesse escondido o sol que iluminara
aquele olhar momentos antes. Discreta, disse apenas que o marido estava
trabalhando muito.
Ele não se aproximou nesse momento, deixou que ela
continuasse falando, que relaxasse. Por mais que a conversa parecesse trivial,
ele sabia que o casamento não ia tão bem assim. Nesse ínterim, Ágatha deu a
entender que a conversa acabara ali. Levantou-se e foi em direção a porta.
“A ousadia, quando bem dosada leva ao sucesso.”
Gustavo adorava falar isso quando estava entre amigos, e ali, diante de si,
estava a grande oportunidade tão esperada ao longo dos anos. Desde que a vira
pela primeira vez, sonhava com uma oportunidade de tê-la nos braços.
De surpresa ele a enlaçou e beijou-a. Num primeiro
momento ela não o repeliu, pelo contrário, sugou-o mais ainda para dentro de
si. Encorajado pela resposta dela, não parou, apertou-a ainda mais e seguiu em
direção a mesa do escritório, derrubando tudo o que estava ali em cima. Voraz,
levantou a saia dela e, como um perito, tirou a calcinha, tocou-a levemente,
encontrando seu sexo intumescido e molhado.
Ágatha estava excitada demais para se dar conta do
que estava prestes a acontecer. Fazia tanto tempo que ela e Heitor não
transavam...
Carinhoso, Gustavo libertou seus seios fartos do
apertado sutiã, fazendo com que se mostrassem em todo o seu esplendor. Para
olhos enfeitiçados pela indústria da beleza, aqueles não seriam seios muito
atraentes, havia marcas do longo período de amamentação, mas para ele, isso não
a desqualificava em nada, pelo contrário, fazia com que parecesse mais plena
como mulher.
A aspereza da barba em contato com a pele sensível
lhe trazia sensações inebriantes...
Ela estava quase se entregando quando algo a fez
parar. Não sabia ao certo o que estava sentindo, mas encostou a mão no peito
dele e o afastou. Imediatamente recolocou suas peças íntimas e abotoou
nervosamente a blusa. Gustavo respirou fundo, tentando conter sua excitação,
estava frustrado.
___ Por favor, vá embora. __ pediu em voz baixa.
Calado, abriu a porta e se foi.
De volta ao restaurante Ágatha tentou se recompor, a
simples lembrança daquele dia a deixara saudosa e confusa.
___ Gustavo, eu sou uma mulher casada, muito bem
casada. __ começou ela __ Estamos passando por uma crise conjugal nesse
momento...
Respirando fundo, o encarou, procurando ganhar tempo
para formular suas próximas palavras.
___ Você é um homem muito... interessante e... eu
acabei me deixando levar, naquela hora, admito. __ seu discurso começou a
ganhar força __ E por que não? Estou cansada, farta de uma série de coisas na
minha vida pessoal, é difícil ser forte o tempo inteiro. Mas as dificuldades
foram feitas para ser superadas. Quero deixar bem claro que não voltará a
acontecer. Além disso, quero que você fique a vontade para procurar outro
profissional, caso se sinta melhor assim.
Ele estava furioso, mas procurou se conter.
___ Você realmente é uma advogada brilhante. __ disse
ele.
___ Por que diz isso? __ perguntou ela.
___ Porque você tem paixão nos seus olhos. Você é
apaixonada por suas causas e eu admiro isso. __ concluiu Gustavo.
Ágatha não acreditava cem por cento no que ele estava
dizendo, mas ele era um grande cliente e não poderia se dar ao luxo de
dispensá-lo, por isso não insistiu em não representá-lo mais.
Passada a tensão entre ambos, o almoço transcorreu
sem problemas.
Depois daquele encontro, Gustavo não entrou mais em
contato, Ágatha pensou nele algumas vezes, se questionava o porquê de tanto
silêncio, mas não havia motivos para ligar para ele. Poderia inventar alguma
desculpa, mas não se sentia bem com a ideia de fazer isso, era melhor deixar as
coisas como estavam.
___ Amor, esqueci de te avisar, __ começou Heitor__
vou viajar.
Aquela semana seria complicada para Ágatha, teria
várias audiências, estava cheia de compromissos.
___ Como assim, viajar? __ perguntou ela.
___ O Gilberto, dono da imobiliária, já te falei
sobre ele. __ Heitor esperou que a esposa dissesse algo, mas ela permaneceu em
silêncio. __Então, ele quer expandir os negócios em São Paulo e me convidou
para ir ver um novo espaço em Alphaville.
Ágatha estranhou aquilo, mas não queria parecer
ciumenta. Aquela poderia ser uma grande oportunidade para Heitor conhecer
outras pessoas. Daria um jeito, pediria à mãe, Rosa, para ficar na casa dela os
dias que o marido estivesse fora.
___ E quantos dias vai ficar lá? __ perguntou a ele.
___ Uns cinco dias. __ respondeu.
Um novo desconforto se apoderou dela. Aquela história
estava ficando muito estranha, seria muito tempo fora. Mas não se atreveu a
argumentar com ele, não sabia se para não parecer desconfiada ou pelo que havia
acontecido com Gustavo.
Marido e mulher se despediram no dia seguinte, bem
cedo com um beijo rápido e a promessa de que se falariam diariamente.
Tiago não gostou da ideia de ficar longe do pai,
estava acostumado a vê-lo todos diariamente.
___ Eu não vou tomar banho agora, só depois. __ disse
o menino.
Já acostumada com essa fala do pequeno, a mãe olhou-o
bem nos olhos e disse:
___ Vai agora.
Sensato, Tiago não falou mais nada e se encaminhou
para o andar de cima.
___ Você parece cansada, filha. __ disse Rosa.
___ Ah, mãe, essa viagem do Heitor me pegou de
surpresa, essa semana está tensa para mim. __ desabafou.
Perspicaz, a mãe perguntou:
___ O que está havendo entre vocês? As últimas vezes
em que nos vimos percebi seu marido muito estranho.
A filha tratou de desconversar, não queria se abrir,
imaginava que as coisas voltariam ao normal entre eles.
Depois dos longos cinco dias, Heitor voltou. Ágatha
estava verdadeiramente com saudades dele e lhe preparou uma surpresa: deixou o
filho na casa da mãe, queria uma noite plena.
Ele já havia desfeito a mala e tomado banho quando
ela entrou no quarto.
___ Já está deitado é? __ ela sorriu insinuante.
___ Nada como a nossa cama. __ ele respondeu.
Silenciosa, ela se deitou ao seu lado, acariciou-lhe
as costas até enfim chegar ao membro dele, massageando-o delicadamente, para
cima e para baixo.
___ Ágatha, eu estou cansado, a cama do hotel era
desconfortável, eu só quero dormir um pouco. __ disse ele tirando a mão dela.
Frustrada e cheia de desejo, ela se encolheu. Pensou
que fora precipitada, ele deveria estar exausto,
tentaria outro dia. Sexo não era problema para eles.
Na manhã seguinte Tiago estava de volta, se jogou nos
braços do pai. A cena deixou-a emocionada. Tanto ela como Heitor haviam lutado
muito para chegar onde chegaram, para ter a família que tinham... o casamento
deles merecia uma segunda chance.
Quando enfim o marido parecia disposto para transar,
os corpos não pareciam se encaixar tão bem, ele parecia apressado e inquieto.
Aquilo era algo novo para ela.
Infeliz, se entregou de corpo e alma ao trabalho,
levou alguns processos para casa, deitava na cama e dormia um sono pesado,
tamanha a exaustão em que estava. Com Heitor, a história parecia ser a mesma,
já não se beijavam, ou questionavam como havia sido o dia do outro.
Ágatha sentia falta de ser tocada, aquele jejum
estava mexendo com sua cabeça. Havia dias em que se contentava com seus
afazeres, mas em outros, acordava, no meio da noite, excitada com os sonhos que
tinha, buscava conciliar novamente o sono e torcia para que os sonhos a
deixassem em paz.
Naquele dia, sexta-feira, não tinha muito o que fazer
no escritório, mas não queria voltar para casa. O filho estava numa festa de um
colega e dormiria na casa da mãe dela,
Heitor provavelmente estaria com algum cliente, algo que se tornara
rotineiro nas noites de sexta. Pouco antes das cinco horas, dispensou Júlia, a
secretária, terminaria uma petição e depois fecharia o escritório.
Pensava em comprar um vinho, a caminho de casa, para
relaxar um pouco, seus ombros doíam e a mente já estava cansada.
Xingou quando a campainha tocou. Já estava juntando
as coisas para ir embora.
Com o rosto aparentando cansaço, abriu a porta e
Gustavo estava ali.
___ Oi. __ disse ele.
___ Oi, Gustavo, eu... eu já estava de saída...
Entre. __ respondeu ela.
Ele estava tranquilo e dessa vez não trazia nenhuma
pasta.
___ Passei aqui para te ver. Estava com saudade. __
disse ele.
___ Saudade?__ ela estava confusa __ Olha, Gustavo,
já conversamos sobre isso, você sabe que eu sou casada e isso... isso é muito
inapropriado.
___ Ágatha, eu tentei me afastar de você... aquele
dia no restaurante, eu me controlei ao máximo para não me aproximar... para não
tocar em você...__ replicou ele __ Mas eu não estou conseguindo, eu...
Sem dizer nenhuma palavra, olhando-a nos olhos ele
foi se aproximando, sem que ela recuasse. Primeiro tocou os braços dela, subiu
as mãos até a nuca, que já estava arrepiada, acariciou o rosto, tocou de leve a
boca. Sentiu as mãos de Ágatha em sua cintura, sabia que ela estava se
entregando, abraçaram-se, forte.
Mais uma vez aquela barba fez com que ela se
arrepiasse, gemeu. Vendo os lábios dela entreabertos, Gustavo a beijou forte,
pararam para respirar e se beijaram novamente.
Ela sentiu um pouco de frio quando se deitaram no
chão, mas ele tirou o paletó e colocou por baixo dela.
Sem pudores, Ágatha se despiu o melhor que pôde,
queria aquele homem, queria sentir prazer, queria ser penetrada. Não havia
tempo para preliminares, quando sentiu o pênis dele ereto como um mastro cuidou
para que ele encontrasse o caminho.
Os gemidos eram lascivos, sedentos um do outro, ela o
puxava mais e mais para baixo e prontamente era correspondida. Se alternavam
por cima um do outro, não havia um roteiro a ser seguido, estavam se
experimentando. Ainda excitadíssimo ele se encosta em sua vulva, em uma
estranha masturbação, até ela gozar. Com o corpo dela ainda se convulsionando
em êxtase, ele a penetrou implacavelmente, até que ela se sentisse sufocada,
num misto de mais excitação e cansaço, ele finalmente gozou.
Ele deixou que o corpo ficasse ainda alguns segundos
em cima dela, depois foi para o lado, tirou a camisinha, amarrou-a e olhou para
ela. Ágatha respirava serena, estava feliz, sentia que ainda era uma mulher,
capaz de despertar desejo em alguém.
Gustavo já era um homem vivido, tinha pelo menos
dezesseis anos a mais do que ela, sabia o quanto ela estava vulnerável... Ele
sempre a desejara, adorava ver os músculos do rosto dela se contraírem quando
sorria, ou ainda, sua aparência séria quando estudava um contrato. Aquela mulher
nascera para ser amada, e faria tudo o que estivesse ao seu alcance para que
ela fosse feliz. Em parte o que ele queria era a juventude dela, sua
vivacidade, sua vontade de viver. Ele sempre fora um canalha com as mulheres,
usara elas e depois as descartara, mas elas também não eram nenhuma donzela em
apuros, também tiraram proveito dele e do dinheiro dele, mas Ágatha era
diferente, nunca se deixou levar por seu charme, em momento algum se insinuara
para ele, isso o deixou intrigado e fez com que se interessasse mais por ela e
por sua vida.
Ao invés de mirar o teto, ela o olhou por um longo
tempo. Sempre o achara atraente, mas tinha um trabalho a fazer, não se
desviaria disso. Com o passar do tempo, aprendeu a conhecer aquele homem, era
um visionário, sabia quando deveria avançar, quando deveria recuar nos
negócios, via potencial onde ninguém imaginava. Ágatha sabia no que estava se
metendo, mas não se preocuparia com isso.
Beijou-o.
Voltou para casa se sentindo outra pessoa, cruzara a
linha invisível, rompera os votos que fizera e não se sentia culpada por isso.
Tomou um banho quente, passou o sabonete pelo corpo
quase que com parcimônia, não queria tirar o cheiro da pele de Gustavo dela,
não queria apagar os vestígios daquela noite.
Não viu a hora que Heitor chegou, quando se deitou na
cama, caiu num sono profundo, quando saiu do quarto, já pela manhã, é que viu o
marido deitado no sofá da sala, ainda com a roupa com que saíra no dia
anterior.
Foi para a cozinha, preparou um café para ambos,
colocou a mesa e o acordou. Ele parecia um pouco confuso e cheirava a bebida.
___ Heitor, por favor, tome um banho e melhore essa
cara. Vou à casa da minha mãe buscar o Thiago, não quero que ele te veja assim
quando chegarmos. __ disse ela.
Heitor ficou feliz por não responder a uma série de
perguntas da mulher, já Ágatha, sentiu que seria hipocrisia demais questionar
onde ele estivera, ou a que horas chegara na noite anterior.
Durante o final de semana se comportaram como se nada
tivesse acontecido, levaram o filho ao cinema, brincaram com ele e conversaram
trivialidades.
Gustavo não telefonara nem um dia, o que pareceu até
um alívio para ela, porque ainda não sabia como lidar com a situação em que
estava, curiosamente, o telefone de Heitor também não tocara, parecia que o
mundo havia esquecido da existência deles.
Júlia recebeu a chefe com um sorriso enorme.
___ Bom dia, Júlia. Nossa, quanta felicidade! O final
de semana foi bom? __ perguntou Ágatha.
___ Na verdade o meu final de semana foi tranquilo,
sem novidades. Mas a senhora deve ter sido bem feliz no seu. __ disse a
secretária ainda sorrindo.
Ágatha não entendeu o que ela queria dizer até abrir
sua sala e ver o que estava em cima de sua mesa. Ali estava um enorme buquê de
rosas vermelhas.
Ela ficou sem fala e correu para ler o cartão, nele
estava escrito apenas: “ Pensando em te (re)ver. Saudades.”. Embora não
houvesse assinatura, ela sabia muito bem quem as mandara. Um sorriso surgiu em
seus lábios, acompanhado das lembranças da noite que tiveram.
Ligou para ele, mas em vão, Gustavo não atendeu,
limitou-se a deixar um recado. Passou todo o dia ansiosa, esperando um
telefonema que não veio
Pensando bem, foi até bom ele não ter atendido a
chamada dela, assim teria mais tempo para pensar, não sabia o que fazer dali
para frente, aquilo não era um relacionamento, afinal, Heitor podia estar ou
não tendo um caso e, mesmo que estivesse, não era justificativa para que ela
fizesse o mesmo.
A confusão em sua mente era tão grande que resolveu
não pensar mais sobre o assunto e mergulhou no trabalho, só parou quando Júlia
passou uma ligação para a sala dela.
___ Doutora Ágatha, em que posso ajudar? __ perguntou
ela.
___ Aceitando o meu convite para jantar amanhã. __
respondeu Gustavo do outro lado da linha.
Involuntariamente ela sorriu, sabia que era errado,
que não deveria voltar a se encontrar com ele, mas seus impulsos foram mais
fortes.
___ Lamento, mas não posso jantar com você. __ fez
uma pausa, enquanto o telefone parecia mudo do outro lado __ Tenho que ir
buscar o meu filho na escola.
___ Tudo bem, aceito perder para ele, mas o que acha
de almoçar, então? Sem segundas intenções, é claro. __ eu riu.
Mordendo o lábio inferior, a doutora apresentou uma
contraproposta:
___ Essa semana tenho alguns clientes para atender,
mas podemos nos ver na semana que vem, não tenho compromisso nenhum marcado
para a tarde de segunda-feira.
___ Então temos um acordo? __ disse Gustavo em tom
maroto __ Eu aceito.
Ágatha estava animada quando se despediram. Não seria
fácil guardar aquele segredo, mas tentaria ao máximo.
A semana passara lentamente, havia dias em que ela
daria tudo para ver Gustavo, mas preferiu frear seus sentimentos, não era mais
uma garotinha, já era uma mulher, consciente das implicações que poderiam ter
suas atitudes.
Notara que Heitor estava diferente, quase não se
falavam, dormiam juntos todas as noites, mas sequer se encostavam. O clima era
tenso entre eles, mas procuravam disfarçar quando estavam perto de Thiago.
Finalmente chegou o dia em que veria Gustavo. Ansiara
pelo momento de estarem sós. Saíram do escritório e foram direto a um motel
distante dali, ainda no carro se beijaram e se tocaram. No motel não
experimentaram a cama ou sentiram os lençóis macios, tiraram suas roupas e
transaram de pé. Deliciosamente espremida contra a parede ela o beijava no
pescoço e acariciava suas costas, enquanto ele segurava uma de suas pernas para
que penetrasse profundamente nela, sussurravam palavras obscenas no ouvido um
do outro, apertavam-se mais e mais. Ela gozou primeiro, Gustavo sentiu as
fortes contrações de suas paredes vaginais, aquela era sua deixa, não poderia
se segurar, gozou forte.
O que tinham era diferente, não era uma transa
qualquer.
Estavam famintos e pediram o almoço no quarto.
Conversaram sobre várias coisas, Ágatha era engraçada, fazia piada de tudo, seu
sorriso ela encantador. Tomaram banho juntos, ela ria enquanto ensaboava suas
costas e ele acabou colocando toda ela embaixo do chuveiro, riram como dois
adolescentes.
Ele a levou até a escola do menino, se despediram
como dois amigos e cada um tomou o seu rumo.
___ Seu cabelo está molhado, Ágatha. __ disse Heitor.
Ela ficou verdadeiramente surpresa, não pensara nisso
quando estava com Gustavo, mais surpresa ainda pelo marido ter reparado.
Ela disse que estava muito quente aquele dia e
molhara um pouco o rosto e o cabelo no escritório. Ambos sabiam que ela estava
mentindo.
Naquela mesma semana encontrou Gustavo e foram para o
mesmo motel, a sensação era inebriante, ela estava feliz.
A fim de passar mais tempo com o amante, Ágatha pediu
que a mãe fosse buscar Thiago na escola, aquela estava se tornando uma prática
comum na vida dela nas últimas semanas. Isso não passou despercebido por
Heitor, que embora tivesse seus próprios segredos, não admitia que a esposa
também pudesse ter os dela.
Ainda com um sorriso no rosto, lembrando do amor que
tinha feito com Gustavo, ela girou a chave na porta de casa e deu de cara com
Heitor sentado no sofá.
___ A sua mãe foi de novo pegar o Thiago na escola.
__ disse ele.
___ Ah, sim. __ gaguejou ela __ Eu pedi porque fiquei presa no
escritório.
___ Sua mentirosa! __ vociferou ele __ Ligaram da
escola para ela! Já havia passado do horário da saída e não tinha ninguém lá
para buscá-lo!
Ágatha ficou estarrecida, esquecera completamente de
buscar o menino.
Ambos levantaram a voz um para o outro, entre
acusações mútuas, Heitor a acusou de traição.
___ Não fiz nada que você não tenha feito antes!__
gritou ela.
Assumir assim que estava sendo infiel, chegou a ser
um alívio para ela, mas a sensação durou pouco.
___ Pai, mãe, parem com isso. __ pediu Thiago.
Olharam um para o outro, ambos estavam errados, não
tinham o direito de chamar atenção do outro. Em algum momento começaram a
pensar diferente e a seguir caminhos diferentes.
Depois de mal tocarem palavras por uma semana, Heitor
saiu de casa. Ficou combinado que passaria o maior tempo possível com o filho e
isso incluía buscá-lo na escola alguns dias na semana.
Dolorosamente Ágatha se lembrara do porta retrato
quebrado na primeira vez que Gustavo a beijara, aquilo havia sido o início do
fim.
No quarto do motel, Gustavo notou a dor no fundo dos
olhos dela. Ágatha se abriu com ele, falou da separação e se viu chorando.
Gustavo a abraçou forte e lambeu suas lágrimas,
queria que ela estivesse dentro dele; beijou seus olhos fechados, acariciou sua
orelha, sorveu seu suspiro.
Já na cama, em um processo lento, trocaram beijos e
carícias. As roupas jaziam imóveis no chão, junto com um dos lençóis da cama.
Gustavo não sabia se Ágatha estava doente ou se todo aquele calor era dela
mesmo, a verdade é que suas entranhas ferviam, louco de desejo, ele suspirava,
misturava seus arquejos com os dela, beijava e lambia seus seios, enquanto era
apertado contra o corpo de Ágatha. Como uma amazona, ela o montou, apoiando as
mãos no peito dele, controlando-lhe os movimentos. Fez com que ele tocasse sua
vulva, adorava ser atiçada daquela maneira.
O orgasmo foi intenso, dessa vez ela gritou e quase
no mesmo instante Gustavo sentiu que não poderia mais se conter.
Adormeceram.
Com o coração cheio de pesar, Ágatha deixou a carta
ao lado dele, sabia que ele não entenderia sua atitude, mas acabaria aceitando.
Ela precisava de um tempo para organizar sua vida, para se reinventar. Thiago
era sua prioridade e estava sentindo muito a separação dos pais.
A advogada não tinha ilusões de que o amante
esperaria por ela, mas se isso acontecesse, talvez pudessem reatar de onde
pararam. Com esse pensamento, o beijou de leve na cama e foi embora