sábado, 29 de junho de 2019

Senti(mento)dos

De boca macia e pele sedosa
De carências e afagos
De verdades e mentiras
De medos e vergonhas
De desejos e arrependimentos
De possibilidades e realizações
Do desejado ao possível
De suspiros a arquejos
De tudo o que ainda não é
De sentir
De sentimento
De sentidos
Que ainda serão
Mas que já estão

Que continuem...

quinta-feira, 21 de março de 2019

Para você...

Ainda que nossas bocas não tenham se tocado,
que eu não saiba se ela é macia,
ou se suas mãos são quentes,
sei o que quero.
Sei que o quero!
Um beijo, um abraço,
um farfalhar suave dos lençóis,
movimentos descoordenados
de quem não conhece,
mas busca... anseia... suspira...
Respirações interrompidas,
corações acelerados, luzes coloridas,
corpos entrelaçados...
Transpirações que se fundem,
olhos que se fecham,
desejo que aumenta,

sonho...

quinta-feira, 14 de março de 2019

Eu

Quero tão pouco da vida
e as pessoas querem tanto de mim
que fico confusa.
Não sei se sou pequena
e não posso dar tudo o que tenho,
ou se sou enorme
e querem mais do que possuo.
Não entendo!
Se uma gota d'água no oceano
ou um passarinho,
se comparada a uma baleia.
Se sou o vento que refresca,
ou a tempestade que mata.
Essa incompreensão...
Ou será incapacidade?
Ou ainda, incompetência?
Ou egoísmo?
Seja lá o que for,
não sei o que sou,
ou o que já fui.
Ou ainda, o que serei.
Como rios que secaram
e só deixaram sulcos no chão, um dia já fui...
Não sei porque não quero descobrir,
se vou acrescentar
ou diminuir o pouco que restou,
das promessas que seriam.

domingo, 10 de março de 2019

Ventos de tempestade

                 Não tem nada para contar, porque não houve nada. __ O pensamento era quase um mantra.
                Perambulou um pouco pelas ruas sem se dar conta de sua aparência: os cabelos crespos e encaracolados estavam desarrumados, o batom já havia sumido e na blusa faltava um botão. 
Ainda meio vacilante, parou em um bar e pediu um café, sabia que era requentado, mas não se importava, queria apenas concentrar-se em algo diferente do que acabara de acontecer.
Não queria voltar para casa, sentia que de alguma maneira, o que era naquele momento, não poderia entrar naquele lugar.
                ___ Moça. __ chamou o garçom.
                Ela não respondeu, na verdade sequer havia escutado.
                ___ Moça. __ repetiu o homem, mais alto dessa vez.
                Ela o olhou fundo nos olhos, sua boca não se mexeu, seus olhos pareciam duas turmalinas negras, vazias.
                ___ A senhora está bem? Nem encostou no café. __ observou.
                Era um rapaz jovem, jovem demais para saber que não se aborda um cliente daquela maneira.
                Aparentemente sem voz ainda, conseguiu movimentar a cabeça de forma a indicar que estava bem.
                As pernas pareciam vacilantes, o corpo estava dolorido, toda ela parecia estranha.
                Nada mais voltaria ao lugar, sabia bem no fundo de si, mas era preciso seguir em frente.
                Perguntou onde era o banheiro e, com mãos trêmulas, passou o batom e delineou os olhos, arrumou o cabelo, o melhor que pôde, e saiu em direção à sua vida. Mas que vida seria aquela? De que maneira seguiria?
                Esperava, como todos os dias, a hora das risadas e abraços.
                ___ Oi, mamãe, estou morrendo de fome!__ Tiago foi logo dando a mochila e a pasta para que ela as levasse.
                Com apenas seis anos, já parecia um menino crescido, era o mais alto da turma.
                ___ Primeiro você vai ter que me contar como foi o seu dia e o que fez na aula, depois pensaremos em algo para comer.__ falou a mãe.
                ___ Eu estudei. __ respondeu lacônico.
                A resposta curta a fez sorrir, crianças eram sempre tão objetivas...
                O retorno ao lar pareceu mais suave, com aquela mãozinha pequena segurando-a. O calor que emanava daquele pequeno ser a enchia de esperança.
                Em pouco tempo, Heitor chegaria. Queria deixar o jantar adiantado, e se arrumar um pouco.
                Preparou tudo, estava ansiosa. Ele parecia estar atrasado, mas isso era comum, às vezes demorava mais na rua, ou ia ver um cliente em potencial. O marido era corretor de investimentos e ela trabalhava como advogada em seu próprio escritório. A casa era bonita, arejada, tinha um estilo singular, estava repleta de fotos do menino e das viagens que fizeram.
                Olhando em volta, dava para perceber que haviam superado a infância pobre em uma favela com alta criminalidade no Rio, conseguiram focar em seus estudos e mirar um futuro onde não houvesse projéteis incandescentes rasgando o escuro da noite.
                Quando se mudaram para aquele condomínio de classe média, perceberam os olhares atravessados dos vizinhos; para muitos, o lugar daqueles pretos não era ali, mas com serenidade, souberam driblar o preconceito, só queriam dar um lar melhor para o filho.
                Tiago começou a gritar da sala avisando que o pai estava chegando.
                Alegre, Heitor abraçou o filho e o trouxe nos ombros, pareciam cópias fiéis um do outro, mas não se podia dizer que Tiago não possuía nenhum traço da mãe, o sorriso era muito parecido com o dela.
                ___ Hoje você demorou muito!__ a voz saiu mais áspera do que ela gostaria.
                ___ Tive que fazer uma visita quando já estava a caminho de casa. __ ele pareceu não se importar com a expressão carregada no rosto da esposa, ela andava nervosa nos últimos dias, o que era compreensível, trabalhava duro.
                ___ Pode dar banho no Tiago?__ perguntou ela__ Já fiz os deveres de casa com ele.
                ___ Posso tomar banho sozinho! __disse o menino com olhos marotos de quem nem abriria o chuveiro.        
___ Tudo bem. __ respondeu, Heitor __ Mas eu vou entrar só um pouquinho, para ver se você não vai molhar tudo.
Os dois saíram rindo da sala.
                Os barulhos vindos do interior da casa demonstravam que o banho já havia terminado,  se apressou em colocar a mesa.
                ___ Venham! __ chamou.
                Heitor parecia especialmente cansado naquele dia, respirava fundo, ombros caídos, estava distraído. Tiago preencheu o tempo falando de uma série de coisas, seus pensamentos eram rápidos como a luz, falava sem parar, o pai costumava dizer que ele seria comentarista de jogos de futebol.
                Os olhos da esposa não saíam de cima do marido, embora quisesse saber o que estava acontecendo, não queria perguntar, até porque não estava muito disposta para conversar sobre o que quer que fosse. Mas seu cérebro estava treinado para perceber quando algo estava errado.
                Já deitados, ouviu Heitor soltar um longo suspiro. Aquela era a  sua deixa.
                ___ O que aconteceu hoje? __ questionou.
                ___ Estou decepcionado. __ suspirou novamente.
                “Um coração culpado é um coração atormentado, como o mar em dia de tormenta.”, pensou ela.
                ___ Isso me lembra a minha infância, quando chegava o Natal e eu ganhava um brinquedo, mas não o que eu realmente queria. __ela tentou brincar.
                ___ A história é mais ou menos essa. Estava certo de que fecharia um grande negócio, um cliente rico, dono de uma empresa de construção... Hoje ele pediu que eu fosse até a casa dele. Bom, quando cheguei lá, ele disse que estava com dúvidas, achava que esse não era o momento certo para investir... Resumindo, ele não quer continuar com os planos.
                Heitor havia se dedicado por bastante tempo na pesquisa do perfil do cliente, fez um levantamento dos seus investimentos, dos ganhos e das perdas que poderia ter, caso mudasse o rumo de suas transações. Aparentemente tudo isso não surtiu efeito, o homem não era tão arrojado quanto deveria ser.
                Ágatha disse as palavras que achou coerentes naquele momento, não conseguiria, ou melhor, não podia, minimizar os sentimentos do esposo, ela própria estava perdida em si mesma.
                O sol ainda nem nascera direito e o casal já estava de pé, havia uma série de coisas a serem feitas, a começar por preparar o café da manhã e aprontar Tiago para ir à escola.  A criança acordava sonolenta e ligeiramente mal humorada, as idas e vindas pelo corredor indicavam que estavam com pressa, algo rotineiro nos dias de semana. Heitor o deixaria na escola para que a mãe o pegasse no final da tarde. Esse foi o arranjo possível, não tinham quem fizesse isso por eles.
                O escritório estava às escuras, algo incomum, fazendo com que a advogada soltasse um sonoro palavrão. Júlia, a recepcionista já deveria ter chegado uma hora antes dela. Acendeu as luzes e foi para sua sala. Mal havia se sentado e o telefone tocou.
                ___ Doutora Ágatha, em que posso ajudar? __ atendeu.
                ___ Preciso falar com você. __ disse a voz do outro lado da linha.
                Sempre direto. Essa era uma característica marcante demais para que ela tivesse esquecido.
                ___ Senhor Monteiro, __ jamais o chamara assim __ sinto muito, mas hoje não poderei atendê-lo, tenho uma audiência agora pela manhã. Mas... ligue mais tarde... tente agendar um horário com a Júlia.
                Não ouviu nenhum ruído do outro lado da linha enquanto apertava com mais força o aparelho.
                ___ Eu entendo. __ respondeu calmo __ Farei o que pediu.
                Monteiro não se despediu, apenas encerrou a ligação.
                Ela se viu surpresa com isso, mas respirou aliviada, não havia mais nada o que pudesse fazer, e deu o assunto por encerrado.
                Começou a organizar sua mesa e quando o fez não ficou tão aborrecida com o atraso da recepcionista: alguns papéis estavam no chão, assim como o retrato e outros objetos. A impressão que dava era a de que uma janela havia ficado aberta durante a noite, deixando entrar o vento forte do inverno, quando na verdade ainda estava no outono.
                Anotou mentalmente que deveria comprar outro porta-retrato, o vidro estava quebrado bem no meio. Aquela era uma das muitas fotos que tinha no escritório, era o registro de seu casamento, sete anos antes: ela e Heitor estavam nos braços um do outro e sorriam para o futuro.
                Quando levantou os olhos percebeu horrorizada que o tempo havia passado mais rápido do que se dera conta, e estava em cima da hora para comparecer ao Fórum. Jamais se atrasara antes para um compromisso.
                O salto batia forte no chão, os passos eram decididos e apressados. Mal cumprimentara o cliente, Samuel, e já estavam sendo chamados para a audiência. Estava transpirando e respirando forte, exatamente como no dia anterior.
                Aquela era uma causa importante, ela estava lutando contra um grande banco. Samuel percebera que havia sumido uma grande quantia em dinheiro de sua conta, indignado, procurou o gerente e, para sua surpresa, recebeu apenas respostas vagas. O homem não conseguira explicar como aquilo havia acontecido e pior, não lhe dera uma solução. Diante de tais evasivas, procurou o escritório dela, que entrou com uma ação contra o banco.
                Ágatha recusara a proposta feita pelos advogados da outra parte: restituírem o valor retirado da conta, corrigido com os juros da poupança. Achara um verdadeiro insulto à sua inteligência, aqueles engravatados a estavam subestimando. Teriam o que mereciam! 
Argumentou que caso a situação fosse contrária, se Samuel estivesse devendo ao banco, teria de pagar o dinheiro corrigido pelos juros do cheque especial, portanto, como fora o banco que o lesara, as regras deveriam ser as mesmas para o ressarcimento. Ela sabia que eles não tinham saída, seu argumento era bastante razoável, apresentariam uma contraproposta.
                Uma nova audiência seria marcada. Explicou tudo ao idoso e disse que entraria em contato assim que tivesse alguma novidade. Decidiu que não voltaria imediatamente ao escritório, almoçaria pelo centro da cidade mesmo e depois partiria em busca de uma nova moldura para a foto de seu casamento.
                A procura não foi em vão, encontrou uma dourada, bastante chamativa e muito bonita. Sorriu para si mesma pensando em como ficaria linda em sua mesa de trabalho.
                Ao voltar para o escritório encontrou a funcionária sentada a mesa com ar triste.
                ___ Doutora, __ disse a jovem __ a senhora me desculpe pelo atraso. A condução demorou muito hoje. Fui para o ponto no horário de sempre, mas passaram dois ônibus lotados, era impossível entrar, tive que esperar outro, aí acabei me atrasando.
                A busca por moradias mais baratas e regiões menos violentas fez com que as pessoas buscassem fixar residência em lugares distantes do centro da cidade, como a Baixada Fluminense e a Zona Oeste. Mas as autoridades responsáveis não deram o devido suporte a essas pessoas. Grande parte da população sofria com a falta de infraestrutura, com a falha no sistema de transporte, saúde e educação. A jovem morava muito distante do escritório e Ágatha sabia disso.
                ___ Tudo bem, Júlia. __ respondeu sensibilizada com a situação.
                ___ Alguns clientes entraram em contato. Pediram que a senhora retornasse as ligações.
                A maioria queria saber sobre o andamento de seus processos, mas ela não tinha nada a lhes dizer ainda, a justiça era morosa, em alguns casos, uma causa poderia se arrastar por anos a fio.
                Ela sabia que ficaria retida por um longo tempo nisso, mas era algo que precisava ser feito. Os clientes se sentiam mais seguros com o retorno dela, esse era um diferencial importante da advogada. Eram tratados com proximidade por ela, buscava humanizar mais a relação advogada/cliente.
                Nos dias que passaram, algumas causas foram finalmente encerradas e outras surgiram. Tanto Ágatha, quanto Heitor,  tiveram uma semana agitada, chegavam ao final do dia exaustos, sentiam que estavam distantes um do outro há tempos, mas a luta diária pelo sustento não permitia que parassem para analisar a fundo o que estava acontecendo.
                O marido lhe comunicara que passaria o final de semana trabalhando em uma pesquisa para um cliente, como não queria incomodar, ela buscou atividades que pudesse fazer fora de casa com o pequeno Tiago.
                ___ Sabe o que vamos fazer hoje? __ perguntou ao filho.
                ___ Não, mas eu pensei em jogar futebol com o papai. __ disse o menino.
                ___ Não, filho, hoje não vai dar, o papai vai ter que trabalhar e nós, __ fez uma pausa para deixá-lo curioso __ nós vamos ao zoológico!
                ___ Oba! __ vibrou __ Vou ver o leão!
                O passeio foi maravilhoso. Tiago ficava encantado com todos os animais que via, a felicidade estava estampada em seu rosto, mas os pensamentos da mãe estavam muito distantes dali. Pensava em como um casamento era algo complicado: duas pessoas com criações diferentes, com inúmeras questões internas vivendo juntas. Por um lado pensava que isso não era algo necessariamente ruim, pelo contrário, era algo positivo, não estariam vendo uma cópia de si mesmos, mas por outro, pensava no quão custoso emocionalmente era manter uma união. A paixão passara logo nos primeiros anos, o que ficou era algo maior, que dependia exclusivamente de cada um: a vontade de ficar juntos. Essa vontade fora reforçada com o nascimento do filho.
                Quando voltaram para casa, Heitor estava falando no telefone com alguém.
                ___ Filho, __ disse a mãe __ por que você não toma um super banho e depois desce para mostrar ao papai as fotos que tiramos no passeio?
                “Não existem soluções fáceis para nenhum tipo de problema.”, pensou triste. O menino já deveria estar cansado de ver o pai sempre muito ocupado, mas Ágatha fazia o melhor que podia para contornar a situação.
                O dia seguinte foi ainda mais animado para Tiago, a mãe o levara a um parque de diversões, se divertiram nos brinquedos e almoçaram por ali mesmo. Quando voltaram Heitor não estava. Nem sempre o marido lhe dava satisfação do que fazia, mas poderia ao menos ter deixado um bilhete.
                Voltou para casa no início da noite, estava muito feliz, fechara um negócio com o cliente do telefone. Ela o ouvia em silêncio. Eufórico, disse que fora convidado para tomar umas bebidas e aceitara, afinal, um momento como aquele deveria ser comemorado.
                “Então quer dizer que todo o negócio que ele fechar, vai sair com o cliente para comemorar?” __ pensou irônica.
                Estava animadíssimo, falava alto e gesticulava bastante.
                Sem mover um músculo da face, lentamente ela foi pegando as coisas que ele foi deixando pelo caminho: paletó, sapatos e meias. Estava irritada! Aquele tempo a mais que ele ficou na rua, poderia ser usado para ficar um pouco com ela e o filho.
                “Fiz a minha parte.” __ pensou desanimada.
                Dessa vez, quando chegou pela manhã, Júlia já estava. De acordo com o seu planejamento, passaria aquele dia no escritório, atendendo a algum eventual cliente e relendo os processos.
“Um dia tranqüilo.” __ pensou.
O breve mal estar que sentiu, indicava que já estava na hora de almoçar.
                Enquanto caminhava em direção ao restaurante de sempre, um carro parou no acostamento, ouviu uma porta bater quase ao mesmo tempo em que uma mão tocava o seu ombro. Virou-se e deu de cara com Monteiro.
                ___ Oi. __ disse ele.
                ___ Oi. __ ela queria falar mais alguma coisa, mas não sabia o que dizer.
                ___ Não vou mentir para você e dizer que estava passando por aqui e a vi. Não, nada disso.__ inspirou profundamente__ Eu estava esperando você.
                Dessa vez não havia a barreira da distância, estavam ali, frente a frente.
                ___ Estou indo almoçar. __ disse ela.
                ___ Eu sei, por isso fiz reserva em um restaurante especial. __ foi logo abrindo a porta do carro para que ela entrasse.
                Como cliente antigo, já haviam almoçado diversas vezes juntos. As conversas eram sempre agradáveis... Mas não sabia se dessa vez seria o mesmo. Estava hesitante, mas o olhar dele a convenceu, fez com que se sentisse segura.
                Quando viu que estavam se encaminhando para a ponte Rio – Niterói, perguntou aonde estavam indo. Misterioso, apenas a olhou e não disse nada. A viagem foi feita em silêncio, no rádio uma música suave...
                A advogada gostava de passear por Niterói, embora já tivesse passado muito tempo desde a última vez que estivera ali.
                O restaurante era de tirar o fôlego, as paredes envidraçadas permitiam ao visitante se deleitar com a vista da praia e do Rio de Janeiro, do outro lado da baía. Ele estava tentando impressioná-la, e ela sabia disso.
                ___ Aqui é lindo! Obrigada pela gentileza. __ disse, educada.
                ___ Não precisa agradecer... Não nos despedimos direito da última vez que nos vimos, não tivemos oportunidade para conversar sobre o que aconteceu. __ falou.
                ___ Senhor Monteiro... __ começou ela.
                ___ Achei que não tínhamos mais esse tipo de formalidade há anos, três anos, para ser preciso. Chame-me apenas de Gustavo, como sempre. __ interrompeu ele.
                ___ Gustavo, __ ela ficou indecisa sobre como introduzir o assunto __ não aconteceu nada, quer ... quer dizer, não há nada para conversar.
                O garçom se aproximou a fim de anotar os pedidos. Ficaram momentaneamente em silêncio.
                ___ Você acha mesmo que pode dizer isso, que não aconteceu nada. Ágatha, aposto que as suas lembranças daquele dia são completamente diferentes. __ alfinetou.
                Os olhos escuros, quase negros a esquadrinhavam, imperiosos, pediam uma resposta, quase a hipnotizaram, levaram-na de volta à semana anterior.
                Júlia deveria ir a alguns bancos, depois estava dispensada. Ágatha ficaria por mais um tempo.
                Gustavo apareceu sem avisar, levara consigo uma minuta de contrato. Estava negociando com um proprietário a compra de duas salas comerciais em um prédio, pretendia fazer uma grande reforma para depois alugar. Essa era sua estratégia, acumulara uma grande quantia em dinheiro com isso. Ela deveria analisar o contrato, ver se havia algo a ser alterado. Leu com calma e aparentemente estava tudo em ordem. Devolveu a pasta dando o seu aval.
                Antes de ir, ele puxou assunto, perguntou por Tiago. Ela pareceu se iluminar só em falar no menino. Contou suas proezas na escola e sobre como estava esperto, mas quando o assunto foi sobre Heitor, os olhos pareceram ficar tristes, como se alguma nuvem tivesse escondido o sol que iluminara aquele olhar momentos antes. Discreta, disse apenas que o marido estava trabalhando muito.
                Ele não se aproximou nesse momento, deixou que ela continuasse falando, que relaxasse. Por mais que a conversa parecesse trivial, ele sabia que o casamento não ia tão bem assim. Nesse ínterim, Ágatha deu a entender que a conversa acabara ali. Levantou-se e foi em direção a porta.
                “A ousadia, quando bem dosada leva ao sucesso.” Gustavo adorava falar isso quando estava entre amigos, e ali, diante de si, estava a grande oportunidade tão esperada ao longo dos anos. Desde que a vira pela primeira vez, sonhava com uma oportunidade de tê-la nos braços.
                De surpresa ele a enlaçou e beijou-a. Num primeiro momento ela não o repeliu, pelo contrário, sugou-o mais ainda para dentro de si. Encorajado pela resposta dela, não parou, apertou-a ainda mais e seguiu em direção a mesa do escritório, derrubando tudo o que estava ali em cima. Voraz, levantou a saia dela e, como um perito, tirou a calcinha, tocou-a levemente, encontrando seu sexo intumescido e molhado.
                Ágatha estava excitada demais para se dar conta do que estava prestes a acontecer. Fazia tanto tempo que ela e Heitor não transavam...
                Carinhoso, Gustavo libertou seus seios fartos do apertado sutiã, fazendo com que se mostrassem em todo o seu esplendor. Para olhos enfeitiçados pela indústria da beleza, aqueles não seriam seios muito atraentes, havia marcas do longo período de amamentação, mas para ele, isso não a desqualificava em nada, pelo contrário, fazia com que parecesse mais plena como mulher.
                A aspereza da barba em contato com a pele sensível lhe trazia sensações inebriantes...
                Ela estava quase se entregando quando algo a fez parar. Não sabia ao certo o que estava sentindo, mas encostou a mão no peito dele e o afastou. Imediatamente recolocou suas peças íntimas e abotoou nervosamente a blusa. Gustavo respirou fundo, tentando conter sua excitação, estava frustrado.
                ___ Por favor, vá embora. __ pediu em voz baixa.
                Calado, abriu a porta e se foi.
                De volta ao restaurante Ágatha tentou se recompor, a simples lembrança daquele dia a deixara saudosa e confusa.
                ___ Gustavo, eu sou uma mulher casada, muito bem casada. __ começou ela __ Estamos passando por uma crise conjugal nesse momento...
                Respirando fundo, o encarou, procurando ganhar tempo para formular suas próximas palavras.
                ___ Você é um homem muito... interessante e... eu acabei me deixando levar, naquela hora, admito. __ seu discurso começou a ganhar força __ E por que não? Estou cansada, farta de uma série de coisas na minha vida pessoal, é difícil ser forte o tempo inteiro. Mas as dificuldades foram feitas para ser superadas. Quero deixar bem claro que não voltará a acontecer. Além disso, quero que você fique a vontade para procurar outro profissional, caso se sinta melhor assim.
                Ele estava furioso, mas procurou se conter.
                ___ Você realmente é uma advogada brilhante. __ disse ele.
                ___ Por que diz isso? __ perguntou ela.
                ___ Porque você tem paixão nos seus olhos. Você é apaixonada por suas causas e eu admiro isso. __ concluiu Gustavo.
                Ágatha não acreditava cem por cento no que ele estava dizendo, mas ele era um grande cliente e não poderia se dar ao luxo de dispensá-lo, por isso não insistiu em não representá-lo mais.
                Passada a tensão entre ambos, o almoço transcorreu sem problemas.
                Depois daquele encontro, Gustavo não entrou mais em contato, Ágatha pensou nele algumas vezes, se questionava o porquê de tanto silêncio, mas não havia motivos para ligar para ele. Poderia inventar alguma desculpa, mas não se sentia bem com a ideia de fazer isso, era melhor deixar as coisas como estavam.
                ___ Amor, esqueci de te avisar, __ começou Heitor__ vou viajar.
                Aquela semana seria complicada para Ágatha, teria várias audiências, estava cheia de compromissos.
                ___ Como assim, viajar? __ perguntou ela.
                ___ O Gilberto, dono da imobiliária, já te falei sobre ele. __ Heitor esperou que a esposa dissesse algo, mas ela permaneceu em silêncio. __Então, ele quer expandir os negócios em São Paulo e me convidou para ir ver um novo espaço em Alphaville.
                Ágatha estranhou aquilo, mas não queria parecer ciumenta. Aquela poderia ser uma grande oportunidade para Heitor conhecer outras pessoas. Daria um jeito, pediria à mãe, Rosa, para ficar na casa dela os dias que o marido estivesse fora.
                ___ E quantos dias vai ficar lá? __ perguntou a ele.
                ___ Uns cinco dias. __ respondeu.
                Um novo desconforto se apoderou dela. Aquela história estava ficando muito estranha, seria muito tempo fora. Mas não se atreveu a argumentar com ele, não sabia se para não parecer desconfiada ou pelo que havia acontecido com Gustavo.
                Marido e mulher se despediram no dia seguinte, bem cedo com um beijo rápido e a promessa de que se falariam diariamente.
                Tiago não gostou da ideia de ficar longe do pai, estava acostumado a vê-lo todos diariamente.
                ___ Eu não vou tomar banho agora, só depois. __ disse o menino.
                Já acostumada com essa fala do pequeno, a mãe olhou-o bem nos olhos e disse:
                ___ Vai agora.
                Sensato, Tiago não falou mais nada e se encaminhou para o andar de cima.
                ___ Você parece cansada, filha. __ disse Rosa.
                ___ Ah, mãe, essa viagem do Heitor me pegou de surpresa, essa semana está tensa para mim. __ desabafou.
                Perspicaz, a mãe perguntou:
                ___ O que está havendo entre vocês? As últimas vezes em que nos vimos percebi seu marido muito estranho.
                A filha tratou de desconversar, não queria se abrir, imaginava que as coisas voltariam ao normal entre eles.
                Depois dos longos cinco dias, Heitor voltou. Ágatha estava verdadeiramente com saudades dele e lhe preparou uma surpresa: deixou o filho na casa da mãe, queria uma noite plena.
                Ele já havia desfeito a mala e tomado banho quando ela entrou no quarto.
                ___ Já está deitado é? __ ela sorriu insinuante.
                ___ Nada como a nossa cama. __ ele respondeu.
                Silenciosa, ela se deitou ao seu lado, acariciou-lhe as costas até enfim chegar ao membro dele, massageando-o delicadamente, para cima e para baixo.
                ___ Ágatha, eu estou cansado, a cama do hotel era desconfortável, eu só quero dormir um pouco. __ disse ele tirando a mão dela.
                Frustrada e cheia de desejo, ela se encolheu. Pensou que fora precipitada, ele deveria estar exausto, tentaria outro dia. Sexo não era problema para eles.
                Na manhã seguinte Tiago estava de volta, se jogou nos braços do pai. A cena deixou-a emocionada. Tanto ela como Heitor haviam lutado muito para chegar onde chegaram, para ter a família que tinham... o casamento deles merecia uma segunda chance.
                Quando enfim o marido parecia disposto para transar, os corpos não pareciam se encaixar tão bem, ele parecia apressado e inquieto. Aquilo era algo novo para ela.
                Infeliz, se entregou de corpo e alma ao trabalho, levou alguns processos para casa, deitava na cama e dormia um sono pesado, tamanha a exaustão em que estava. Com Heitor, a história parecia ser a mesma, já não se beijavam, ou questionavam como havia sido o dia do outro.
                Ágatha sentia falta de ser tocada, aquele jejum estava mexendo com sua cabeça. Havia dias em que se contentava com seus afazeres, mas em outros, acordava, no meio da noite, excitada com os sonhos que tinha, buscava conciliar novamente o sono e torcia para que os sonhos a deixassem em paz.
                Naquele dia, sexta-feira, não tinha muito o que fazer no escritório, mas não queria voltar para casa. O filho estava numa festa de um colega e dormiria na casa da mãe dela,  Heitor provavelmente estaria com algum cliente, algo que se tornara rotineiro nas noites de sexta. Pouco antes das cinco horas, dispensou Júlia, a secretária, terminaria uma petição e depois fecharia o escritório.
                Pensava em comprar um vinho, a caminho de casa, para relaxar um pouco, seus ombros doíam e a mente já estava cansada.
                Xingou quando a campainha tocou. Já estava juntando as coisas para ir embora.
                Com o rosto aparentando cansaço, abriu a porta e Gustavo estava ali.
                ___ Oi. __ disse ele.
                ___ Oi, Gustavo, eu... eu já estava de saída... Entre. __ respondeu ela.
                Ele estava tranquilo e dessa vez não trazia nenhuma pasta.
                ___ Passei aqui para te ver. Estava com saudade. __ disse ele.
                ___ Saudade?__ ela estava confusa __ Olha, Gustavo, já conversamos sobre isso, você sabe que eu sou casada e isso... isso é muito inapropriado.
                ___ Ágatha, eu tentei me afastar de você... aquele dia no restaurante, eu me controlei ao máximo para não me aproximar... para não tocar em você...__ replicou ele __ Mas eu não estou conseguindo, eu...
                Sem dizer nenhuma palavra, olhando-a nos olhos ele foi se aproximando, sem que ela recuasse. Primeiro tocou os braços dela, subiu as mãos até a nuca, que já estava arrepiada, acariciou o rosto, tocou de leve a boca. Sentiu as mãos de Ágatha em sua cintura, sabia que ela estava se entregando, abraçaram-se, forte.
                Mais uma vez aquela barba fez com que ela se arrepiasse, gemeu. Vendo os lábios dela entreabertos, Gustavo a beijou forte, pararam para respirar e se beijaram novamente.
                Ela sentiu um pouco de frio quando se deitaram no chão, mas ele tirou o paletó e colocou por baixo dela.
                Sem pudores, Ágatha se despiu o melhor que pôde, queria aquele homem, queria sentir prazer, queria ser penetrada. Não havia tempo para preliminares, quando sentiu o pênis dele ereto como um mastro cuidou para que ele encontrasse o caminho.
                Os gemidos eram lascivos, sedentos um do outro, ela o puxava mais e mais para baixo e prontamente era correspondida. Se alternavam por cima um do outro, não havia um roteiro a ser seguido, estavam se experimentando. Ainda excitadíssimo ele se encosta em sua vulva, em uma estranha masturbação, até ela gozar. Com o corpo dela ainda se convulsionando em êxtase, ele a penetrou implacavelmente, até que ela se sentisse sufocada, num misto de mais excitação e cansaço, ele finalmente gozou.
                Ele deixou que o corpo ficasse ainda alguns segundos em cima dela, depois foi para o lado, tirou a camisinha, amarrou-a e olhou para ela. Ágatha respirava serena, estava feliz, sentia que ainda era uma mulher, capaz de despertar desejo em alguém.
                Gustavo já era um homem vivido, tinha pelo menos dezesseis anos a mais do que ela, sabia o quanto ela estava vulnerável... Ele sempre a desejara, adorava ver os músculos do rosto dela se contraírem quando sorria, ou ainda, sua aparência séria quando estudava um contrato. Aquela mulher nascera para ser amada, e faria tudo o que estivesse ao seu alcance para que ela fosse feliz. Em parte o que ele queria era a juventude dela, sua vivacidade, sua vontade de viver. Ele sempre fora um canalha com as mulheres, usara elas e depois as descartara, mas elas também não eram nenhuma donzela em apuros, também tiraram proveito dele e do dinheiro dele, mas Ágatha era diferente, nunca se deixou levar por seu charme, em momento algum se insinuara para ele, isso o deixou intrigado e fez com que se interessasse mais por ela e por sua vida.
                Ao invés de mirar o teto, ela o olhou por um longo tempo. Sempre o achara atraente, mas tinha um trabalho a fazer, não se desviaria disso. Com o passar do tempo, aprendeu a conhecer aquele homem, era um visionário, sabia quando deveria avançar, quando deveria recuar nos negócios, via potencial onde ninguém imaginava. Ágatha sabia no que estava se metendo, mas não se preocuparia com isso.
                Beijou-o.
                Voltou para casa se sentindo outra pessoa, cruzara a linha invisível, rompera os votos que fizera e não se sentia culpada por isso.
                Tomou um banho quente, passou o sabonete pelo corpo quase que com parcimônia, não queria tirar o cheiro da pele de Gustavo dela, não queria apagar os vestígios daquela noite.
                Não viu a hora que Heitor chegou, quando se deitou na cama, caiu num sono profundo, quando saiu do quarto, já pela manhã, é que viu o marido deitado no sofá da sala, ainda com a roupa com que saíra no dia anterior.
                Foi para a cozinha, preparou um café para ambos, colocou a mesa e o acordou. Ele parecia um pouco confuso e cheirava a bebida.
                ___ Heitor, por favor, tome um banho e melhore essa cara. Vou à casa da minha mãe buscar o Thiago, não quero que ele te veja assim quando chegarmos. __ disse ela.
                Heitor ficou feliz por não responder a uma série de perguntas da mulher, já Ágatha, sentiu que seria hipocrisia demais questionar onde ele estivera, ou a que horas chegara na noite anterior.
                Durante o final de semana se comportaram como se nada tivesse acontecido, levaram o filho ao cinema, brincaram com ele e conversaram trivialidades.
                Gustavo não telefonara nem um dia, o que pareceu até um alívio para ela, porque ainda não sabia como lidar com a situação em que estava, curiosamente, o telefone de Heitor também não tocara, parecia que o mundo havia esquecido da existência deles.
                Júlia recebeu a chefe com um sorriso enorme.
                ___ Bom dia, Júlia. Nossa, quanta felicidade! O final de semana foi bom? __ perguntou Ágatha.
                ___ Na verdade o meu final de semana foi tranquilo, sem novidades. Mas a senhora deve ter sido bem feliz no seu. __ disse a secretária ainda sorrindo.
                Ágatha não entendeu o que ela queria dizer até abrir sua sala e ver o que estava em cima de sua mesa. Ali estava um enorme buquê de rosas vermelhas.
                Ela ficou sem fala e correu para ler o cartão, nele estava escrito apenas: “ Pensando em te (re)ver. Saudades.”. Embora não houvesse assinatura, ela sabia muito bem quem as mandara. Um sorriso surgiu em seus lábios, acompanhado das lembranças da noite que tiveram.
                Ligou para ele, mas em vão, Gustavo não atendeu, limitou-se a deixar um recado. Passou todo o dia ansiosa, esperando um telefonema que não veio
                Pensando bem, foi até bom ele não ter atendido a chamada dela, assim teria mais tempo para pensar, não sabia o que fazer dali para frente, aquilo não era um relacionamento, afinal, Heitor podia estar ou não tendo um caso e, mesmo que estivesse, não era justificativa para que ela fizesse o mesmo.        
                A confusão em sua mente era tão grande que resolveu não pensar mais sobre o assunto e mergulhou no trabalho, só parou quando Júlia passou uma ligação para a sala dela.
                ___ Doutora Ágatha, em que posso ajudar? __ perguntou ela.
                ___ Aceitando o meu convite para jantar amanhã. __ respondeu Gustavo do outro lado da linha.
                Involuntariamente ela sorriu, sabia que era errado, que não deveria voltar a se encontrar com ele, mas seus impulsos foram mais fortes.
                ___ Lamento, mas não posso jantar com você. __ fez uma pausa, enquanto o telefone parecia mudo do outro lado __ Tenho que ir buscar o meu filho na escola.
                ___ Tudo bem, aceito perder para ele, mas o que acha de almoçar, então? Sem segundas intenções, é claro. __ eu riu.
                Mordendo o lábio inferior, a doutora apresentou uma contraproposta:
                ___ Essa semana tenho alguns clientes para atender, mas podemos nos ver na semana que vem, não tenho compromisso nenhum marcado para a tarde de segunda-feira.
                ___ Então temos um acordo? __ disse Gustavo em tom maroto __ Eu aceito.
                Ágatha estava animada quando se despediram. Não seria fácil guardar aquele segredo, mas tentaria ao máximo.
                A semana passara lentamente, havia dias em que ela daria tudo para ver Gustavo, mas preferiu frear seus sentimentos, não era mais uma garotinha, já era uma mulher, consciente das implicações que poderiam ter suas atitudes.
                Notara que Heitor estava diferente, quase não se falavam, dormiam juntos todas as noites, mas sequer se encostavam. O clima era tenso entre eles, mas procuravam disfarçar quando estavam perto de Thiago.
                Finalmente chegou o dia em que veria Gustavo. Ansiara pelo momento de estarem sós. Saíram do escritório e foram direto a um motel distante dali, ainda no carro se beijaram e se tocaram. No motel não experimentaram a cama ou sentiram os lençóis macios, tiraram suas roupas e transaram de pé. Deliciosamente espremida contra a parede ela o beijava no pescoço e acariciava suas costas, enquanto ele segurava uma de suas pernas para que penetrasse profundamente nela, sussurravam palavras obscenas no ouvido um do outro, apertavam-se mais e mais. Ela gozou primeiro, Gustavo sentiu as fortes contrações de suas paredes vaginais, aquela era sua deixa, não poderia se segurar, gozou forte.
                O que tinham era diferente, não era uma transa qualquer.
                Estavam famintos e pediram o almoço no quarto. Conversaram sobre várias coisas, Ágatha era engraçada, fazia piada de tudo, seu sorriso ela encantador. Tomaram banho juntos, ela ria enquanto ensaboava suas costas e ele acabou colocando toda ela embaixo do chuveiro, riram como dois adolescentes.
                Ele a levou até a escola do menino, se despediram como dois amigos e cada um tomou o seu rumo.
                ___ Seu cabelo está molhado, Ágatha. __ disse Heitor.
                Ela ficou verdadeiramente surpresa, não pensara nisso quando estava com Gustavo, mais surpresa ainda pelo marido ter reparado.
                Ela disse que estava muito quente aquele dia e molhara um pouco o rosto e o cabelo no escritório. Ambos sabiam que ela estava mentindo.
                Naquela mesma semana encontrou Gustavo e foram para o mesmo motel, a sensação era inebriante, ela estava feliz.
                A fim de passar mais tempo com o amante, Ágatha pediu que a mãe fosse buscar Thiago na escola, aquela estava se tornando uma prática comum na vida dela nas últimas semanas. Isso não passou despercebido por Heitor, que embora tivesse seus próprios segredos, não admitia que a esposa também pudesse ter os dela.
                Ainda com um sorriso no rosto, lembrando do amor que tinha feito com Gustavo, ela girou a chave na porta de casa e deu de cara com Heitor sentado no sofá.
                ___ A sua mãe foi de novo pegar o Thiago na escola. __ disse ele.
                ___ Ah, sim. __  gaguejou ela __ Eu pedi porque fiquei presa no escritório.
                ___ Sua mentirosa! __ vociferou ele __ Ligaram da escola para ela! Já havia passado do horário da saída e não tinha ninguém lá para buscá-lo!
                Ágatha ficou estarrecida, esquecera completamente de buscar o menino.
                Ambos levantaram a voz um para o outro, entre acusações mútuas, Heitor a acusou de traição.
                ___ Não fiz nada que você não tenha feito antes!__ gritou ela.
                Assumir assim que estava sendo infiel, chegou a ser um alívio para ela, mas a sensação durou pouco.
                ___ Pai, mãe, parem com isso. __ pediu Thiago.
                Olharam um para o outro, ambos estavam errados, não tinham o direito de chamar atenção do outro. Em algum momento começaram a pensar diferente e a seguir caminhos diferentes.
                Depois de mal tocarem palavras por uma semana, Heitor saiu de casa. Ficou combinado que passaria o maior tempo possível com o filho e isso incluía buscá-lo na escola alguns dias na semana.
                Dolorosamente Ágatha se lembrara do porta retrato quebrado na primeira vez que Gustavo a beijara, aquilo havia sido o início do fim.
                No quarto do motel, Gustavo notou a dor no fundo dos olhos dela. Ágatha se abriu com ele, falou da separação e se viu chorando.
                Gustavo a abraçou forte e lambeu suas lágrimas, queria que ela estivesse dentro dele; beijou seus olhos fechados, acariciou sua orelha, sorveu seu suspiro.
                Já na cama, em um processo lento, trocaram beijos e carícias. As roupas jaziam imóveis no chão, junto com um dos lençóis da cama. Gustavo não sabia se Ágatha estava doente ou se todo aquele calor era dela mesmo, a verdade é que suas entranhas ferviam, louco de desejo, ele suspirava, misturava seus arquejos com os dela, beijava e lambia seus seios, enquanto era apertado contra o corpo de Ágatha. Como uma amazona, ela o montou, apoiando as mãos no peito dele, controlando-lhe os movimentos. Fez com que ele tocasse sua vulva, adorava ser atiçada daquela maneira.
                O orgasmo foi intenso, dessa vez ela gritou e quase no mesmo instante Gustavo sentiu que não poderia mais se conter.
                Adormeceram.
                Com o coração cheio de pesar, Ágatha deixou a carta ao lado dele, sabia que ele não entenderia sua atitude, mas acabaria aceitando. Ela precisava de um tempo para organizar sua vida, para se reinventar. Thiago era sua prioridade e estava sentindo muito a separação dos pais.

                A advogada não tinha ilusões de que o amante esperaria por ela, mas se isso acontecesse, talvez pudessem reatar de onde pararam. Com esse pensamento, o beijou de leve na cama e foi embora