Nossa alma
chora, nosso coração bate descompassado em meio ao luto que só começa, mas não
termina. Começamos a ver o mundo diferente, com cores, mas esmaecidas, como uma
rosa que sofre desidratação.
Buscamos
manter vivas na memória as lembranças de quem se foi, as boas e as não tão
boas, lutamos ferozmente com a nova geração para que não esqueçam de onde
vieram, mas a vida deles segue, eles têm sede do novo, de construção, enquanto
nós buscamos apenas a (re) construção, porque nossa vida já não é mais a mesma,
ela segue, mas em partes, em ondas, em brisas quentes como o verão, saborosas
como o outono, perfumadas como a primavera e frias como o inverno.
Nessa
nova vida, a brisa não espera a estações, ela se mistura, se atropela e nos
atinge com a força da saudade.
Um
dia também seremos lembranças, imagens na memória, nas fotos em vídeos que provavelmente
ninguém mais verá. É então que sofremos ainda mais, pela dor da nossa perda e
pela dor futura de nos perderem.
Ensinamos
eles a nos amar porque os amamos, ensinamos a respeitar porque queremos protegê-los,
ensinamos a pensar em nós porque queremos ser vivos em algum lugar daquele futuro
que não estaremos.
Logo
já não sabemos se estamos pensando em quem se foi ou se estamos pensando em
nós, se a dor do luto é pelo passado ou pelo futuro...
Queria,
de verdade, que a partida, deles ou a nossa, fosse silenciosa, sem essa dor
barulhenta e complexa, que nos mastiga, pisa, acaricia e começa tudo de novo,
mas isso não é e nem nunca será possível para os amantes, os que amam nunca
esquecem.
Jamais
esquecerei quem se faz tão presente!